VICTOR HUGO GALDINO & JULIANA COSTA
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O
espaço era azul e estávamos mergulhados. Acima há um rosto escuro, solitário,
frio, instigante e enquanto o corpo afunda a alma flutua. Qualquer sentimento se torna
algo que não é, como se tudo intimamente nunca fosse algo claro. Nem o som, nem o
silêncio e nem olhares moram por aqui. As ondas desse espaço explodem ininterruptamente
de dentro para fora, entretanto é impossível senti-las ou toca-las. Daqui o céu
se torna cada vez mais distante e opaco, todo segundo é seco e salgado. Os
pensamentos se cruzam com as espumas na superfície e em seguida são jogados a
beira mar. Esse lugar não tem mãe! Esse lugar não tem pai! Vejam comigo o
quanto a existência é inconsistente. Nem
o amor, nem a dor ou o ódio moram por aqui, nem o próprio abandono conhece esse
lugar, parece tudo muito sem sentido pra se chamar de recinto, pois não há proporção
de espaço. Se aqui nada respira o que podemos chamar de vida? Não há tempo, nem
lembrança e em um piscar de olhos a realidade renova-se, não há espaço pra esperança
em um lugar tão distante. A claridade do sol está afastada e continuamos
submergindo mais rápido, mais rápido... não há finito nesse declínio. Talvez amanhã seja diferente, talvez haja
algo a se dominar. O solo aqui é cinza e
toma conta de todo o meu campo de visão, percebo que aqui não há fortes risadas,
mas para onde foram as dores daqui? Porém há poemas, há rochas esverdeadas, há
brilho em todo o solo vindo de cima, nem a vida nem a morte passearam por aqui.
Não é natureza, mas tudo consegue manter sua perfeita singularidade e até as
rochas possuem aspecto de força. Atenção, pois a embarcação também está
afundando e cada vez mais cinza e sem controle. Capitão, precisamos nadar até a
superfície! Capitão, precisamos seguir a pouca luminosidade do sol! Capitão,
onde você se encontra? Precisamos subir! A água desse lugar é amarga demais e
está cegando os nossos olhos, precisamos largar a embarcação. Nos pavilhões desse
lugar apenas os choros e as lamentações se tornam canções e não são afáveis! Capitão, não se desespere se tentarem
encontrar coerência em sua dor.
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