terça-feira, 11 de outubro de 2016

CAPITÃO

VICTOR HUGO GALDINO & JULIANA COSTA
BLOG: sexoemesadebar.blogspot.com



O espaço era azul e estávamos mergulhados. Acima há um rosto escuro, solitário, frio, instigante e enquanto o corpo afunda a alma flutua. Qualquer sentimento se torna algo que não é, como se tudo intimamente nunca fosse algo claro. Nem o som, nem o silêncio e nem olhares moram por aqui. As ondas desse espaço explodem ininterruptamente de dentro para fora, entretanto é impossível senti-las ou toca-las. Daqui o céu se torna cada vez mais distante e opaco, todo segundo é seco e salgado. Os pensamentos se cruzam com as espumas na superfície e em seguida são jogados a beira mar. Esse lugar não tem mãe! Esse lugar não tem pai! Vejam comigo o quanto a existência é inconsistente.  Nem o amor, nem a dor ou o ódio moram por aqui, nem o próprio abandono conhece esse lugar, parece tudo muito sem sentido pra se chamar de recinto, pois não há proporção de espaço. Se aqui nada respira o que podemos chamar de vida? Não há tempo, nem lembrança e em um piscar de olhos a realidade renova-se, não há espaço pra esperança em um lugar tão distante. A claridade do sol está afastada e continuamos submergindo mais rápido, mais rápido... não há finito nesse declínio.  Talvez amanhã seja diferente, talvez haja algo a se dominar.  O solo aqui é cinza e toma conta de todo o meu campo de visão, percebo que aqui não há fortes risadas, mas para onde foram as dores daqui? Porém há poemas, há rochas esverdeadas, há brilho em todo o solo vindo de cima, nem a vida nem a morte passearam por aqui. Não é natureza, mas tudo consegue manter sua perfeita singularidade e até as rochas possuem aspecto de força. Atenção, pois a embarcação também está afundando e cada vez mais cinza e sem controle. Capitão, precisamos nadar até a superfície! Capitão, precisamos seguir a pouca luminosidade do sol! Capitão, onde você se encontra? Precisamos subir! A água desse lugar é amarga demais e está cegando os nossos olhos, precisamos largar a embarcação. Nos pavilhões desse lugar apenas os choros e as lamentações se tornam canções e não são afáveis!  Capitão, não se desespere se tentarem encontrar coerência em sua dor. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário