quarta-feira, 23 de novembro de 2016

ELA

VICTOR HUGO GALDINO
BLOG: sexoemesadebar.blogspot.com.br

Instintivamente ilícita, eis ela. Do seu sorriso adentro é possível ler decodificadamente o impulso sexual mais punk e musicável que já ouvi, sua alma é absolutamente melódica e intensa, doce e salgada ao mesmo tempo. Se o orgasmo pudesse personificar-se sua pele teria a textura mais descritível possível. Não só uma mulher, não só uma menina, não só, ela nunca é somente. Sua harmonia com o existir é tão levemente melancólica quanto ousada, suas expressões chegam a ser o mais puro e autêntico blues, quase dançável. Ela é o ápice, suave em sua plenitude, ácida em sua grandeza, moça você é o sol? Sua assinatura no mundo é o próprio existir: enigmática e sutil, suficientemente! Nem do lado direito, nem do lado esquerdo, apenas caminha em sua estrada multilateral e nada de gaiolas, por gentileza! O seu lugar é onde a liberdade mora, sua alma é livre e voa, voa alto, voa grande só pra contrastar com seu cabelo curto. Puro cheiro do desafio, o óbvio não a agrada muito, nem tente! E se ela me ler eu a leio, há conexão, há passado, há metafísica, há tudo bagunçado e mesmo assim ela permanece poetizável. Menina! Largue o volante de sua vida e beije-a, é somente isso que a vida quer de você.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

CAPITÃO

VICTOR HUGO GALDINO & JULIANA COSTA
BLOG: sexoemesadebar.blogspot.com



O espaço era azul e estávamos mergulhados. Acima há um rosto escuro, solitário, frio, instigante e enquanto o corpo afunda a alma flutua. Qualquer sentimento se torna algo que não é, como se tudo intimamente nunca fosse algo claro. Nem o som, nem o silêncio e nem olhares moram por aqui. As ondas desse espaço explodem ininterruptamente de dentro para fora, entretanto é impossível senti-las ou toca-las. Daqui o céu se torna cada vez mais distante e opaco, todo segundo é seco e salgado. Os pensamentos se cruzam com as espumas na superfície e em seguida são jogados a beira mar. Esse lugar não tem mãe! Esse lugar não tem pai! Vejam comigo o quanto a existência é inconsistente.  Nem o amor, nem a dor ou o ódio moram por aqui, nem o próprio abandono conhece esse lugar, parece tudo muito sem sentido pra se chamar de recinto, pois não há proporção de espaço. Se aqui nada respira o que podemos chamar de vida? Não há tempo, nem lembrança e em um piscar de olhos a realidade renova-se, não há espaço pra esperança em um lugar tão distante. A claridade do sol está afastada e continuamos submergindo mais rápido, mais rápido... não há finito nesse declínio.  Talvez amanhã seja diferente, talvez haja algo a se dominar.  O solo aqui é cinza e toma conta de todo o meu campo de visão, percebo que aqui não há fortes risadas, mas para onde foram as dores daqui? Porém há poemas, há rochas esverdeadas, há brilho em todo o solo vindo de cima, nem a vida nem a morte passearam por aqui. Não é natureza, mas tudo consegue manter sua perfeita singularidade e até as rochas possuem aspecto de força. Atenção, pois a embarcação também está afundando e cada vez mais cinza e sem controle. Capitão, precisamos nadar até a superfície! Capitão, precisamos seguir a pouca luminosidade do sol! Capitão, onde você se encontra? Precisamos subir! A água desse lugar é amarga demais e está cegando os nossos olhos, precisamos largar a embarcação. Nos pavilhões desse lugar apenas os choros e as lamentações se tornam canções e não são afáveis!  Capitão, não se desespere se tentarem encontrar coerência em sua dor. 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O ÚLTIMO SUSPIRO


Eu resolvi na serenidade do teu sorriso semear tudo aquilo que não se pode ver, desde então tudo se transformou em futuro. Notei os sintomas quando o mundo se tornou apoucado, quando a alma sentiu-se preenchida, quando os planos foram projetados nos olhares, quando os sorrisos se tornam pinturas eternizadas na mente, quando a mente e o coração não quiseram descansar. A solidão fugiu dos dicionários, das ruas, das casas, dos bares, de mim.  Corpos distantes, porém corações próximos, nem todo carinho é físico.  Eu sei, não precisa me dizer que o amor eterno é grande demais para mundo entender. É amor, e quem ama vive mais, afinal é o amor a principal fonte de energia da alma... Amar, amar, amar e amar, até que o último suspiro seja dado.


VICTOR HUGO GALDINO
BLOG: sexoemesadebar.blogspot.com.br

A DITADURA DA PUBERDADE


VICTOR HUGO GALDINO
BLOG: sexoemesadebar.blogspot.com

Que não ocorram sorrisos coletivos por obrigação, pois o vulcão que entra em erupção no meu intimo não tem nome nem pede licença ao chegar, entretanto é tão devastador quanto o Krakatoa, curioso em sua essência e pleno em sua grandiosidade.   
Meus hormônios teimosos explodem como uma larva que molda uma montanha, que molda o meu corpo, o meu senso e minha percepção. Minha gente tem medo de explosão, minha gente anda cabisbaixa, anda calada. Meu vizinho já não canta e minha tia já não usa os mesmo vestidos coloridos, tudo é cinza. Dentro de mim a liberdade se constitui e dança sobre meus impulsos sexuais aflorados, meu corpo holista é inédito e parece ter vida própria.
Ouço daqui gritos acorrentados, e eu continuo a explodir por dentro. Vocês que criaram o medo, façam-me o favor de descria-lo.
Neste momento minha avó olha tristonha, pela janela, o mundo se tornando preto e branco. Chorando ela observa de longe o sepultamento do excelentíssimo Senhor Sorriso. O sorriso morreu e quase ninguém percebeu, dizem que foi por conta de uma explosão, mas qual delas? Permitam-me falar sobre ele: Sorriso era um cara bacana, aspecto legal, livre, intensivo, não tinha moradia e tampouco residência fixa, vivia beirando e acampando entre uma boca e outra, feito andorinha voando de árvore em árvore. Agora, tão cedo, tão breve e o opaco seu corpo desce ladeira adentro em um caixão sem graça. Mas para onde foram todas aquelas risadas?
As asas do meu sabiá estão curtas enquanto as minhas tentam nascer, o meu pássaro azulão não cantarola e já não se ouve ninguém cantando o Cartola:

“Ouça-me bem, amor
Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó...”

No trabalho ninguém canta, enquanto em mim existe uma imensidão artística tentando ser construída, mas lá fora a arte se cala. Na rua é choque, chibata, coice e grito. Tem choque pau de arara, coice e silencio.
Chora pobre cabocla, chora pobre menino, chora! Chora que suas lágrimas banharão essa terra seca de homens secos e seus prantos poderão ser ouvidos como música em todas as esquinas.  O que devo fazer com minha própria explosão para não ser explodido? 

Por favor, não me venha falar em carnaval desta vez e tampouco sobre futebol! O carnaval deste ano não tem samba, não tem preto sorrindo e nem mulata dançando. Aqui há muito gringo curioso, e ontem até chegou de avião um loiro alto chamado Sr. Repressão, ele é meio fechado, sem graça, não tem samba no pé nem coração.